As revistas do Estado Islâmico
Acabei de ler o livro "A armadilha Daesh" e não consegui parar de pensar em fazer um post, aliás vários. Mas é muito mais fácil escrever um post sobre os outfits que usei do que um texto sobre o Estado islâmico. Até porque é um tema com muita história que precisa de ser estudada e escrita com rigor. Por isso, antes de mergulhar nessa grande responsabilidade, hoje trago-vos um post mais soft mas igualmente importante (e de informação porque é isso que o blog também é) sobre as revistas usadas como uma das ferramentas de recrutamento de novos combatentes para o Estado Islâmico.
Antes de mais é importante estar familizariado com a concisa definição de Estado Islâmico (mesmo que curta e simples, mais tarde faço um sobre toda a verdadeira definição): é uma organização terrorista (surgiu apenas em 2003 para apoiar a Al-Qaeda) de natureza jihadista de orientação salafita1 e wahabismo2 que luta para controlar todas as regiões do Médio Oriente.
As duas revistas oficiais do Estado Islâmico são a Dabiq e a Rumiyah. A primeira acabou por ser substituida após o grupo jihadista ter perdido o controlo da cidade síria, a norte de Alepo, Dabiq (profecia da última batalha do Juízo Final, muçulmanos vencerão cristãos). Rumiyah é o nome da revista que surgiu em 2016 mas também é a designação arábica para Roma, tendo sido utilizada como referência também à profecia da queda do império romano.
Desde 2010, que o Estado Islâmico começou a usar as revistas digitais como ferramentas para difundir propaganda e recrutar combatentes para a sua causa. E não só para aquele terreno mas também nos países estrangeiros e consequentemente países de origem. Isto porque as edições são traduzidas em inglês, francês, alemão, russo, indonésio de forma a alcançar o maior número de pessoas possível.
As publicações da revista Dabiq saíram esporadicamente nos últimos meses até julho de 2016 mas as forças turcas já especulavam a criação da Rumiyah e a substituição da Dabiq como revista oficial do Estado Islâmico.
Ao contrário da revista Dabiq, a Rumiyah não tem uma narrativa apocalíptica, é significativamente mais curta e de qualidade inferior. Quanto às edições foram publicadas todos os meses até setembro de 2017. Apesar disso, existem muitas outras revistas de propaganda, que embora não sejam oficiais o conteúdo e objetivo são os mesmos.
Rumiyah passou então a ser a revista oficial e começou por publicar guias completos de como manusear veículos como armas de destruição sobre inimigos de Alá (citando o Corão). Apelando também a este tipo de ataques, explicando quais as melhores formas de o fazer, incentivam quem lê, dando exemplos reais, e agradecem aos autores, como por exemplo:
“Apesar de ser uma parte essencial da vida moderna, muito poucos compreendem o poder mortífero e destrutivo dos veículos, e a sua capacidade de causar muitas mortes se usados de forma premeditada. Isto foi demonstrado de forma soberba no ataque lançado pelo irmão Mohamed Lahouaiej-Bouhlel [o atacante de Nice]”
Rumiyah, edição Novembro 2016
Um mês depois, desta edição aconteceu o atentado em Berlim, um camião invadiu o mercado de Natal e matou 12 pessoas. Estes são ataques que satisfazem o desejo do Estado Islâmico, o de fazer o maior número de ataques possíveis mesmo que de baixa intensidade. Apesar disso, são tão graves e perigosos como qualquer outro atentado porque são pouco sofisticados e estão ao alcance de qualquer um.
Estas revistas revelam a mistura sofisticada de publicidade sensacionalista e a encenação dos crimes cometidos! São ou eram verdadeiras revistas elaboradas por redatores anglófonos e designers profissionais.
Em Berlim, o autor do ataque jurou lealdade ao Estado Islâmico e estes, por sinal, reivindicaram o atentado através da agência de notícias Amaq.
Um ano depois, a Amaq continua a ser o instrumento que o Estado Islâmico utiliza para assumir a autoria dos ataques. Esta agência foi criada pelo Estado Islâmico de forma a substituir as contas de twitter. Detalhes sobre a administração não existem muitos mas sabemos que é um dos recursos, considerado pelos chefes de grupo, mais crucial.
O último atentado reinvidicado pelo canal foi há precisamente duas semanas depois do ataque na igreja cristã de Saint Mina, no Egipto, que provocou nove mortos.
Estas são três forças de propaganda que tiveram e têm um papel importante e delicado tanto nos países do Médio Oriente como nos países do Ocidente. São ferramentas de propaganda e à distância de um click estamos em contacto com o mundo do terrorismo. Estes são apenas alguns detalhes sobre as duas revistas oficiais do Estado Islâmico, bem como sobre a agência oficial de notícias. O livro apenas fala da revista Dabiq mas achei pertinente incluir a Rumiyah, visto ambas terem sido as revistas oficiais do Estado Islâmico.
1- movimento ortodoxo ultraconservador dentro do islamismo sunita (XVIII, Egipto)
2- movimento ortodoxo dentro do islamismo sunita idealizado por Muhammad bin Abd Al Wahhab (XVIII, Arábia Saudita)