Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Shi

O dia em que Lisboa tremeu | 1 de novembro de 1755

Shi, 02.11.18

1 de Novembro de 1755, Lisboa tremeu e uma nova visão surgiu sobre as eventuais forças da natureza. 

 

"Lisboa, que se foi, pois mais vícios a afogam

que a Londres ou Paris, que nas delícias vogam?

Lisboa é destruída e dança-se em Paris"
                                                    Voltaire, "Cândido" 

terramoto1755.jpg

Uma cidade movimentada numa manhã quente, para a altura do ano, as ruas enchiam-se e o povo ia todo para o mesmo. Não sabiam é que o mesmo era o terror que acontecera. 

 

9 e 30 da manhã e as igrejas estavam atoladas de crentes que rezavam pelos seus entes queridos. Um abalo enorme estremeceu a cidade onde cerca de 275 mil pessoas viviam. Ruas estreitas, becos apertados, palácios, edifícios de prestígio, um porto e até monumentos, o suficiente para o horror acontecer. 

 

Apesar do movimento desnorteado dos animais (cães, gatos, pássaros), o terramoto apanhou todos de surpresa. O abalo aconteceu e a partir daí foi um desencadear de desastres. Pouco se sabia (ou nada) como proceder em tremores "divinos" da terra no entanto, a primeira reação é fugir. Quem estava dentro das igrejas e casas mal conseguiu chegar às ruas, a maioria das igrejas foram completamente destruídas pelo terramoto e por isso, a maioria dos crentes ficou soterrada nos seus escombros. 

 

Lisboa1755.jpg

 

Contudo, apesar da rua ser a melhor opção de fuga não significava que fosse menos mortífera. Os edifícios começaram a colapsar e uma "chuva de pedras" atingia mortalmente centenas de pessoas que estavam ao ar livre. Para que, naquele dia, nada faltasse ao povo português, o destino quis que surgissem vários focos de incêndios provocados pelas velas que naquele dia homenageavam a memória de alguém. Triste destino! 

 

Com os vários desmoronamentos muitos procuraram refúgio no porto o que acabou por levá-los para a primeira fila da morte. As águas recuaram, resultado de um epicentro no mar (sem exactidão e com muitas teorias) entre 150 a 500 km a sudoeste de Lisboa, mostrando o fundo do rio. A serenidade do rio Tejo deu lugar a fortes ondas que entraram pela cidade de Lisboa sem dó nem piedade. Um maremoto (com ondas entre 6 a 20 metros de altura), várias réplicas durante horas, fogo a lavrar em vários bairros de Lisboa e consequentemente, uma maré de assaltos e violência. 

 

Foram todos deixados à sua sorte, os sobreviventes, os mortos e o destino de Lisboa. Os incêndios duraram mais de 5 dias, o rio só voltou ao seu leito usual três dias depois e cerca de 90 mil pessoas perderam a vida naquele dia de Todos os Santos. Eram vários os sobreviventes que durante dias se foram levantando dos destroços mas jamais se ergueram para a vida. Mais de 85% das construções de Lisboa foram destruídas e aqui começou uma nova crise económica na sociedade portuguesa. 

 

 

Depois da catástrofe vem a bonança ou, neste caso, Sebastião José de Carvalho e Melo. O rei D.José, totalmente perturbado pelo terramoto, entregara as rédeas do poder ao Maquês de Pombal. A reconstrução de Lisboa e da vida dos portugueses foi um verdadeiro impulsionador para o sucesso político do Conde de Oeiras. Começou por oferecer apoios à população, tratando dos abastecimentos, assistência moral e material e reduzindo drásticamente a vaga de criminalidade que assolou a cidade nas semanas seguintes. Seguidamente, as paróquias receberam ordens do Marquês de Pombal para analisar o que tinha sido destruído e o número de vítimas. Assim foi possível concluir qual o ponto de situação e partir rumo a uma solução. Ao longo das décadas seguintes, foram se erguendo as novas fachadas lisboetas e foi traçado um novo plano de edificação para a Baixa. 

 

Até hoje foi a maior catástrofe natural a assolar território português, deixou cicatrizes e um ponto de viragem que reconstruiu não só Portugal mas também a Europa. Foram várias as nações que prestaram apoio depois do desastre de 1755 no entanto, o efeito do sismo foi além fronteiras acabando por ser um tema de debate entre filósofos e cientistas.  Foram dados os primeiros passos que marcaram o nascimento da ciência que estuda os sismos, a sismologia moderna. Com isto não esquecer que não foi apenas a cidade de Lisboa que sofreu as consequências do terramoto, as ondas de choque sentiram-se por várias regiões de Portugal e desde o norte de África até à Europa do norte. Existirá uma moral no meio desta história toda?