Passeios Sintrenses | Palácio da Pena
É sempre mágico o momento em que entro no palácio. É o meu sítio favorito de todos os tempos! Talvez pela quantidade de documentos que vi (e vejo) ou por as minhas duas rainhas favoritas (D.Maria II e D.Amélia) terem sido as únicas a fazer parte da história deste palácio. Já foi considerado o castelo mais belo da Europa e todos os anos recebe milhões de visitantes. De todo o Mundo são feitos elogios e há quem venha propositadamente conhecer este palácio que é uma das mais belas construções de Portugal.
Por este ser o meu palácio predilecto tenho muita informação que gostava de partilhar convosco, no entanto vou tentar não dispersar.
No século XIX a paisagem da serra de Sintra erguia um antigo convento em ruínas que maravilhou o segundo marido da rainha D.Maria II.
Quando D.Fernando Saxe Coburgo-Gotha resgatou a Pena, apenas a capela estava intacta. O estado do convento não era o mais simpático devido a um raio que destruiu a torre e ,posteriormente ,ao terramoto de 1755.
Pela cabeça do rei consorte D.Fernando II ergueram se as primeiras fachadas do palácio em 1842. As obras de reconstrução foram rápidas, tendo em conta a época, demorando cerca de 15 anos. Mas claro que todo o trabalho por trás da execução levou anos, aliás, era como a realização de um sonho do rei.
O projeto passou pelo restauro do antigo convento e por novas intervenções que decidiram o futuro do palácio mais belo da Europa. D.Fernando II chama então o barão alemão Von Eschwege que chega do Brasil para ajudar nos planos do projeto.
O palácio rejuvenesceu e no alto da serra ergueu-se o castelo dos contos de fadas. Com uma atitude vanguardista e inovadora recuperaram os valores arquitectónicos nacionais de diferentes épocas. É o mais completo e notável exemplar do Romantismo mas podemos encontrar elementos de inspiração medieval, árabe, egípcia, manuelinos e também do espírito Wagneriano dos castelos de Schinkel.
Apesar de aproveitados os vestígios deixados pelos frades, foram feitas alterações em quase todos os vãos. Como por exemplo, uma das torres cilíndricas passou para a retaguarda do palácio.
Como já disse o palácio tem uma concepção bastante especial porque os estilos são diversos e bastante diferentes. O claustro que nos lembra as catedrais góticas, as diversas guaritas (torres com frestas ou seteiras), as paredes revestidas com azulejos neo-hispano-árabes oitocentistas, uma janela (a do lado do pátio dos arcos) adaptada à janela do capítulo do Convento de Cristo e ainda a tal figura do Tritão que nos remete à alegoria da Criação do Mundo (meio homem meio peixe).
Não esquecendo que uma das atrações principais são as cúpulas das torres, inspiradas na arte mourisca (arte hispano-muçulmana) e em obras manuelinas. Estes são apenas alguns dos aspectos arquitectónicos que criam a magia e a riqueza da Pena.
Quanto ao interior, o palácio tem 26 divisões, todas trabalhados em estuque, com pinturas murais em "trompe l'oeil" e diversos revestimentos em azulejos que datam desde do século XVI até ao século XIX. As decorações são maravilhosas (apesar da pobreza de informação dos adereços e mobiliário de que vou falar a seguir) porque revelam expressões de antigas civilizações, como egípcias e árabes, tendo presente várias formas mítico-mágicas, pormenores vegetalistas e animalistas.
Mobiliário chinês com embutidos de madrepérola, jarras lacadas, cães de fó em porcelana, cadeirões, esculturas de bronze, mobiliário indiano, loiças da companhia das Índias, lustres, candelabros, pinturas a óleo, conjuntos de toilette, mil e uma coisas que fazem do palácio um lugar encantador e esplêndido.
Seria uma seca, para a maioria de vocês, falar particularmente de cada divisão por isso deixo isso para outra visita. São incríveis e a perfeição da execução está à vista.
O espólio do palácio era dos mais ricos do país devido às inúmeras coleções reais que foram doadas ou deixadas pela Coroa. No entanto, como eu estava a dizer, o mobiliário e os adereços que enchem as divisões não estão com a disposição ideal nem identificados com informações básicas como a quem pertenciam, quem os doou ou o que são. Além disso, as obras de restauro são incrivelmente longas e ,apesar de ser o palácio que visito mais vezes, é raro encontrar todas as alas disponíveis para visita. Por 14€ merecíamos mais informação! Sinto que quem não está dentro da história do palácio, sai mais confuso do que quando entrou. É apenas uma crítica construtiva de alguém que gosta de história, adora o palácio e sente que estão banalizar um bocado a importância da história do palácio mais belo da Europa. Muitas das peças são únicas e a falta de informação entristece-me.
Outra questão, é a falta de referências (existem mas não as suficientes) às rainhas D.Maria II, sem ela D.Fernando nunca teria erguido este palácio e toda a natureza envolvente foi de sua "autoria", e D.Amélia, a nossa última rainha de Portugal que fez da Pena casa de família e posteriormente retiro (no guia/mapa a cronologia presente nem faz referência ao período em que a última família real lá viveu). Já para não falar que as divisões (salas e quartos) não estão identificadas no mapa.
No entanto, todos estes aspectos não são suficientes para o palácio perder todo o encanto e magia. É um dos palácios mais belos da Europa e nunca é demais visitar esta obra de arte. É tão especial, que a rainha D.Amélia quando em 1945 regressou a Portugal em visita pediu a todos para saírem e a deixarem sozinha durante alguns minutos.